A demolição de mais um patrimônio do centro histórico de Hamburgo
Velho não foi bem recebida pela comunidade. Integrantes do Coletivo
Consciência Coletiva, em parceria com o núcleo regional Vale do Sinos da Defender, marcaram a
insatisfação através de dois atos simbólicos no final de semana.
A Casa Koch, construída na década de 20 e situada dentro do perímetro
de proteção rigorosa em tombamento federal pelo IPHAN, teve sua
demolição autorizada pela Comissão do Patrimônio Cultural e Natural do
município. A principal alegação seria a de que uma rachadura
inviabilizaria sua restauração. “Conhecemos a casa e sabemos que estava
íntegra. Se a suposta rachadura existia, é evidente que se resolveria
com intervenções recuperativas. Nenhum colegiado tem o poder de anular
um direito coletivo e difuso com uma decisão, é inconstitucional” opina o acadêmico de Arquitetura Jorge Luís Stocker
Junior, um dos organizadores do ato público. Para ele “Ainda que de fato estivesse condenada estruturalmente,
a casa poderia ser recuperada. E ainda que insistisse na demolição, a
Comissão deveria ter submetido o caso ao IPHAN.”
Para o artista Alexandre de Oliveira Reis, “Esta
situação demonstra que chegamos a um limite, pois se permite demolições
até mesmo no centro histórico. É insustentável. Precisamos de
intervenções urgentes que viabilizem a preservação do patrimônio
edificado da cidade” . Alexandre tem atuado na campanha de
conscientização SOS Patrimônio Cultural.
Durante a semana, o núcleo regional da Defender Vale do Sinos relatou a irregularidade da
demolição a todos os órgãos competentes. Jorge esclarece: “Secretaria de
Desenvolvimento Urbano, de Cultura, integrantes da Comissão do
Patrimônio, Promotoria do Ministério Público, IPHAN, foram todos
avisados da irregularidade a tempo de impedir a demolição completa.
Infelizmente não tivemos nenhum retorno. Desemparada, só restou a
sociedade marcar sua insatisfação através de atos simbólicos”.
O primeiro ato foi realizado no sábado, dia 14 de setembro, durante o
Seminário Regional dos Delegados de Cultura do Vale do Sinos.
Representantes do Coletivo realizaram uma manifestação pacífica
presentando o Secretario Municipal de Cultura, Carlos Mossman, com uma
coroa de flores em protesto a permissão de demolição da Casa Koch. O
secretário havia reiterado na imprensa durante a semana sua posição
favorável a demolição do imóvel. Ao receber o manifesto, Mossman
desequilibrou-se e chutou a coroa a pontapés, assustando os presentes,
alguns dos quais se retiraram em protesto.

Já no domingo, dia 15, foi realizado o Cortejo Fúnebre em homenagem a
Casa Koch. A manifestação saiu da Rua Piratini em direção ao que
restava da casa, carregando coroas de flores, cruzes, cartazes e marcha
fúnebre tocada no violão pelo artista Anderson Claiton. Para Alexandre,
“Neste ato a sociedade civil demonstrou que não aceita o ocorrido, não é
cúmplice e não pactua com mais esta omissão.” As coroas foram deixadas
sob os tijolos da casa demolida, junto de velas e cruz. Foi realizada
uma solenidade no local, levantando o histórico do imóvel e sua
importância.
O cortejo seguiu até a Casa Grünn, na rua General Osório, onde foi
realizado um abraço coletivo na residência. Inventariada e na área em
estudo de tombamento federal e estadual, é um dos imóveis mais
importantes do centro histórico e encontra-se em acelerada degradação.
“Consideramos importante terminar a manifestação com uma ação positiva. A
Casa Koch se perdeu com a omissão dos órgãos que deveriam tê-la
assegurado. Com este abraço, quisemos marcar que a sociedade não aceita
que isto se repita. Uma rachadura não pode cancelar o valor cultural do
patrimônio.” declarou Jorge.

Após a manifestação, alguns participantes permaneceram em uma reunião
informal no ateliê do artista Alexandre Reis e sede do Coletivo
Consciência Coletiva, onde foi debatida a cultura no município.
Finalizando, o artista Alexandre Reis fez aos presentes uma exibição
pública do seu “Malifesto”, uma intervenção artística que aborda a
situação do patrimônio cultural na cidade. Durante todo o trajeto a
manifestação envolveu cerca de 35 participantes.