Eduardo Lesina
A história dos povos é contada através das suas construções e manifestações populares, sejam elas materiais ou não. Essas produções formam o patrimônio cultural de uma determinada região, eternizando sua cultura, suas tradições e sua identidade, bem como evidenciam a importância de sua preservação para as gerações futuras. A Constituição Federal de 1988, no art. 216, confere ao Estado, com colaboração da comunidade, essa responsabilidade de promover e proteger o patrimônio cultural.
Em Novo Hamburgo, o Projeto Preservar busca fortalecer esse princípio constitucional compartilhando conhecimento e capacitando a sociedade civil na área de preservação do patrimônio cultural. O grupo surgiu um ano após o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tombar o Centro Histórico de Hamburgo Velho, fortalecendo o debate sobre preservação cultural e histórica da cidade. Em 2016, os arquitetos Suzana Vielitz de Oliveira, Karen Kussler e Jorge Luís Stocker Júnior, além do biólogo e restaurador científico Markus Wilimzig, uniram-se com o objetivo de potencializar e capacitar a comunidade e os profissionais da área através de oficinas sobre preservação do patrimônio.
"Na nossa atuação profissional a gente começou a se deparar com uma série de problemas que a cidade tem, tanto problemas que dizem respeito à informação, quanto problemas de formação técnica dos profissionais para atuar com patrimônio", conta Stocker. Suzana, que foi professora de Karen e Stocker na graduação, conta que antes do projeto eles reuniam com o aspecto militante, no sentido de pensar o que se poderia fazer e como se poderia agir, até surgir a ideia de organizar as aulas.
Essas motivações influenciaram a formação das duas primeiras oficinas do grupo: "Formação de Agentes Comunitários para a Preservação do Patrimônio Cultural", voltado para a comunidade geral, e o "Curso de Métodos para Projeto de Restauro", com foco nos profissionais, atuantes ou não, na área de intervenção e preservação. As oficinas aconteceram no Museu Comunitário Casa Schmitt-Presser - tombado pelo Iphan em 1985.
Dentro das mesmas abordagens que unem teoria e prática, o grupo passou a trabalhar, no ano passado, com professores sobre a temática da educação patrimonial como conteúdo que intersecciona com todas as disciplinas. "Buscamos atuar na questão da educação patrimonial porque acreditávamos que era um espaço vazio e que poderíamos contribuir para informar a população", afirma Karen. Ainda, a arquiteta comenta que parte dos moradores não conseguiam ver um lado positivo de se ter o bairro de Hamburgo Velho como patrimônio, além da desinformação sobre as políticas públicas existentes.
No fim de 2019, o projeto promoveu a "Oficina de Restauro de Arte Cemiterial", visando o ensinamento sobre as questões técnicas e conceituais para a restauração do patrimônio cultural nos cemitérios. As lápides de pedra arenito, encontradas nos cemitérios de imigração alemã e presentes nos acervos tombados do município de Novo Hamburgo, caracterizam os cemitérios da região de imigração alemã e remontam histórias do período pré-industrial.
As oficinas ministradas pelo Projeto Preservar são gratuitas e foram financiadas pelo Fundo Municipal de Cultura de Novo Hamburgo (Funcultura), através da Secretaria de Cultura do município. De 2017 para cá, o projeto já qualificou mais de 100 alunos.
Fonte: https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/cadernos/empresas_e_negocios/2020/01/720749-iniciativa-faz-aproximacao-de-comunidade-e-patrimonio-cultural.html
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