quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Coluna "Pensar a Cidade", Jornal do Comércio: Especialista analisa danos ao patrimônio em Brasília

 

Bruna Suptitz
O vandalismo praticado por grupos extremistas apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro no dia 8 de janeiro em Brasília teve como alvo as sedes e os acervos do Congresso Nacional, onde ficam o Senado e a Câmara, do Palácio do Planalto, que é a casa do governo, e do Supremo Tribunal Federal. Os edifícios sediam, respectivamente, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, ligados entre si pela Praça dos Três Poderes. São lugares que representam as instituições democráticas do País. Além do estrago material e prejuízo financeiro, que ainda não foi totalmente calculado, há outro ângulo pelo qual se pode analisar os fato.
Para o arquiteto e urbanista Jorge Luís Stocker Jr., coordenador do núcleo Rio Grande do Sul do Icomos - Conselho Internacional de Monumentos e Sítios, o que mais assusta é o ataque a símbolos importantes para a construção da identidade nacional. "É um claro processo de não identificação das pessoas com essas referências, com o que as instituições significam e com a própria democracia", aponta.
Stocker explica que existe historicamente relação entre conflitos políticos e sociais e o patrimônio, o que "é normal, embora triste". Parte da explicação remonta à Revolução Francesa (século XVIII): "em dado momento, as forças revolucionárias compreenderam que seria preciso preservar símbolos que representassem o processo que levou à revolução", diz o especialista. "Desde então, o patrimônio é alvo desses conflitos e está na ordem do dia", completa.
Ou seja, mais que o custo financeiro para a recuperação dos prédios e das obras de arte, nos casos em que isso for possível, é preciso criar um caminho para a educação patrimonial. "As referências não precisam ser celebradas apenas, pode se ter uma visão crítica. Mas é preciso criar um vínculo da sociedade com essas referências".
Ainda não se tem uma lista definitiva sobre as obras de arte, materiais e documentos históricos perdidos. O Senado informa que o prejuízo em relação ao seu patrimônio será por volta de R$ 4 milhões. A Câmara dos Deputados estima, em relatório preliminar, mais de R$ 3 milhões. Governo e Supremo Tribunal Federal ainda não divulgaram valores parciais. A recuperação do patrimônio - prédios e acervos - será feita com recurso público.



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